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Biografia

Futebol: o passatempo que virou profissão

Pouca gente sabe, mas a primeira bola com a qual Raí competiu foi a de basquete, esporte que praticou dos 12 aos 14 anos e lhe rendeu o vice-campeonato pela Recreativa de Ribeirão Preto. Raí sempre jogava pelada com os amigos, como quase todo menino, mas futebol só entrou em campo quando ele tinha 15 anos. Um amigo, que jogava no Botafogo de Ribeirão Preto, levou Raí para fazer um teste. Nessa época, o craque não acalentava maiores sonhos de se tornar um jogador profissional. Afinal, a família já tinha um craque – Sócrates, o Doutor, considerado um dos melhores jogadores do mundo na Copa de 1982. Mas Raí acabou passando na peneira e foi chamado para treinar pelo time. Jogou pelo Botafogo de 1980 a 1986. Até o nascimento de sua primeira filha, em 1982, Raí não levava o esporte a sério. Ia pouco aos treinos e, quando ia, chegava atrasado. Estava sempre distraído durante as partidas – gritavam seu nome para que o jogador lembrasse que estava em campo. Mas a responsabilidade que nasceu com Emanuella começou a mudar sua relação com o futebol. A nova postura logo gerou resultados e, em 1983, Raí se profissionalizou.

Por orientação dos pais, continuou com os estudos e chegou a cursar duas faculdades, que não concluiu: História e, mais tarde, Educação Física.

De um time pequeno para a maior das seleções

Depois de uma excelente experiência no Botafogo, Raí teve uma passagem-relâmpago pela Ponte Preta de Campinas: se contundiu várias vezes e acabou voltando para Ribeirão Preto. Nessa época, foi treinado pelo uruguaio Pedro Rocha, que viu em Raí uma dinâmica de jogo diferente e apostou no seu talento. Com o estímulo, Raí acabou se tornando um dos poucos jogadores de futebol de um clube do interior a chegar à seleção brasileira.

E, assim, no dia 19 de maio de 1987, Raí estreou com a cobiçada camisa da seleção Canarinho no empate de 1 a 1 com a Inglaterra.

De craque a ídolo

Quatro meses depois, sua convocação para a seleção rendeu a maior transação já realizada entre times brasileiros na época: Raí foi comprado pelo São Paulo Futebol Clube por 24 milhões de cruzados.

Mas o time vinha passando por um período difícil, sem títulos, e a adaptação de Raí à cidade, ao time e, principalmente, ao esquema do treinador Cilinho também não foi fácil. Ainda assim, fez parte do grupo campeão paulista de 1989.

Seu desempenho começou a mudar com a chegada de Telê Santana ao time, no ano seguinte. Telê é considerado o grande responsável pelo aperfeiçoamento do talento de Raí.

“O estilo rigoroso do Telê foi muito importante para aperfeiçoar meu jogo. Ele me cobrava o tempo todo, exigia dedicação nos treinos e acabei ficando com os pés e a cabeça mais no chão”, comenta Raí.

Com Telê, Raí treinou exaustivamente a concentração, marcação aos adversários e, principalmente, as finalizações. Raí conquistou a camisa 10 do time e começou a colecionar conquistas. O seu segundo Campeonato Paulista veio em 1991, quando foi artilheiro do time com 20 gols. No mesmo ano, conquistou com um time de craques, como Zetti, Cafu, Antonio Carlos, Muller, Toninho Cerezo, entre outros, o título brasileiro. Em seguida, veio o Bicampeonato na Taça Libertadores da América e do Mundial Interclubes de 1992.

Aliás, uma das maiores recompensas pelo trabalho árduo que Telê e Raí realizaram em conjunto veio justamente na final do Mundial de 1992, contra o Barcelona. Mais precisamente, aos 34 minutos do segundo tempo, de uma cobrança de falta, ensaiada milhares e milhares de vezes. Para muitos, o gol mais emocionante da história da SPFC.

Na opinião de Raí e de milhares de torcedores tricolores, amantes do bom futebol e técnicos no Brasil e no mundo, 1992 foi o ano da consagração do craque.


Fotografia: Hugo Gallo

Bonjour Paris

O caminho natural do já então ídolo Raí eram os campos internacionais. Dentre as várias propostas que recebeu, Raí acabou se decidindo pelo francês Paris Saint-Germain. Em setembro de 1993, fez sua primeira partida vestindo a camisa azul e vermelha do time e marcou o único gol do jogo contra o Montpellier.

Mas a adaptação a Paris foi ainda mais difícil do que a adaptação a São Paulo. O esquema de jogo do time, o idioma, o clima, nada ajudava. E Raí foi parar no banco. Mais uma vez, uma mudança de técnico ajudou o jogador, que começou a brilhar na Cidade Luz. Suas atuações foram melhorando e, com elas, a colocação do time no campeonato francês, que passou do 6º ao 2º lugar. O Paris Saint-Germain dificilmente teria conquistado tantos títulos entre 1994 e 1998 sem a presença de Raí no time: Copa Liga da França (95 e 98), Copa da França (93, 95 e 98), Campeonato Francês (94) e a Recopa Europeia (96). A torcida reconheceu a ligação entre o craque e tantas vitórias e Raí virou um ídolo entre os torcedores, que o consideram um dos maiores jogadores que já passaram pelo time. O PSG renovou o contrato com Raí por mais 3 temporadas e o craque só voltou ao Brasil depois de cinco anos atuando na França.

Na sua última partida pelo time, o público compareceu ao estádio com placas verde-amarelas e cantou “Aquarela do Brasil”. Raí se emocionou. Há alguns anos, ao descobrir que Raí assistia a um jogo do PSG da tribuna de honra, torcedores e até os jogadores começaram a gritar seu nome. E apesar de ter voltado ao Brasil, o ídolo nunca se desligou afetivamente do time e da cidade de Paris.

Au revoir, Saint-Germain

De volta ao Brasil em 1998, Raí voltou para o seu time do coração, o São Paulo. Veio, para desespero dos corintianos, diretamente para a final do Campeonato Paulista. Que corintiano consegue esquecer aquela bola desviada no primeiro pau que encontrou a cabeça de Raí na entrada da área e foi parar no fundo do gol? Estava aberto o caminho para os outros dois gols que dariam ao São Paulo o título.

Com a camisa verde-amarela

A primeira vez que Raí vestiu a camisa da seleção foi em 1987. Nesse ano, o Brasil foi campeão pan-americano. Em 1991, Raí virou capitão do time, liderança que manteve por 3 anos. De seus pés saiu um dos gols na estreia do Brasil contra a Rússia, em 1994.

Como todo jogador brasileiro, Raí realizou o sonho de jogar pela seleção. Mas como poucos, teve a chance de beijar a taça do mundo, na final contra a Itália.

O fim de uma carreira brilhante

Em 1999, por conta de uma cirurgia no joelho, Raí passou nove meses sem jogar. Assim que se recuperou, voltou ao Morumbi e ajudou o São Paulo a conquistar o campeonato paulista sobre o Santos. O craque aproveitou a vitória para anunciar que deixaria de jogar.

No ano 2000, aos 35 anos, Raí se despediu dos gramados. Mas jamais se despediu do seu amor pelo futebol.